quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Castro Alves




Poema

As duas ilhas

Quando à noite — às horas mortas —O silêncio e a solidão— Sob o dossel do infinito —Dormem do mar n'amplidão,Vê-se, por cima dos mares,Rasgando o teto dos aresDois gigantescos perfis...Olhando por sobre as vagas,Atentos, longínquas plagasAo clarear dos fuzis.

Quem os vê, olha espantadoE a sós murmura: "0 que é?Ai! que atalaias gigantes,São essas além de pé?!..."Adamastor de granitoCo'a testa roça o infinitoE a barba molha no mar;É de pedra a cabeleiraSacudind'a onda ligeiraFaz de medo recuar


São — dous marcos miliários,Que Deus nas ondas plantou. Dous rochedos, onde o mundo Dous Prometeus amarrou!... — Acolá... (Não tenhas medo!) É Santa Helena — o rochedo Desse Titã, que foi rei!... — Ali... (Não feches os olhos!...) Ali... aqueles abrolhosSão a ilha de Jersey!...

São eles — os dous gigantesNo século de pigmeus.São eles — que a majestadeArrancam da mão de Deus.— Este concentra na fronteMais astros — que o horizonte,Mais luz — do que o sol lançou!...— Aquele — na destra alçadaTraz segura sua espada— Cometa, que ao céu roubou!...

Dizem que, quando, alta noite, Dorme a terra — e vela Deus, As duas ilhas conversam Sem temor perante os céus. — Jersey curva sobre os mares À Santa Helena os pensares Segreda do velho Hugo... — E Santa Helena no entanto No Salgueiro enxuga o pranto E conta o que Ele falou...

Como vasta reticênciaSe estende o silêncio após...És muito pequena, ó França,P'ra conter estes heróis...Sim! que estes vultos augustosPara o leito de ProcustosMuito grandes Deus traçou...Basta os reis tremam de medoSe a sombra de algum rochedoSobre eles se projetou!...

Dizem que, quando, alta noite, Dorme a terra — e vela Deus, As duas ilhas conversam Sem temor perante os céus. — Jersey curva sobre os mares À Santa Helena os pensares Segreda do velho Hugo... — E Santa Helena no entanto No Salgueiro enxuga o pranto E conta o que Ele falou...

E olhando o presente infameClamam: "Da turba vulgarNós — infinitos de pedra —Nós havemo-los vingar!. . . "E do mar sobre as escumas,E do céu por sobre as brumas,Um ao outro dando a mão...Encaram a imensidadeBradando: "A Posteridade!..."Deus ri-se e diz: "Inda não

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